Logan, 15 de abril de 2014
Este tal de iced coffee que tomo nesta
tarde finalmente morna tem gosto de rum. Rum, que eu descobri há pouco tempo.
Rum. Rum dos melhores.
Ruim.
Veja bem. Ele tenta ser uma
alternativa à cafeína quente para dias em que energia e refresco são
necessários.
Mas não refresca;
E o gosto de amargo fica na
boca, mas não sobe à cabeça;
Ele nem mata a minha vontade de
café;
E nem mata a minha vontade por
refresco;
E nem me inebria;
Esse tal de café gelado não
passa é de uma mentira. Uma sabotagem das boas armada pra me dar um pouco da
energia que eu preciso pro dia, um tico do alívio refrescante de uma boa
vitamina de banana e a falsa promessa da amargura que embriaga.
Ele tenta ser e dar conta de
tantas coisas, esse tal de café gelado. E juro, juro que estou tentanto, estou
tentando apreciá-lo pelo que ele é, pela sua essência e lugar diferente no
mundo enquanto café gelado.
Como colocar de lado, contudo,
o fato de que aqueles que o bebem na
verdade o fazem por temer o suór extremo causado por um bom café preto num dia
quente, ou as calorias destruidoras da cremosa vitamina ou a perda de
sobriedade de um rum numa terça-feira à tarde?
Não. Melhor colocar gelo no
copo e apertar o mesmo botão da máquina de café preto e bom e não colocar
açúcar.
Se em cada gole eu tenho falsas
promessas, ainda assim algo me foi prometido e nada me foi tirado, ainda que
não devidamente cumprido.
Odeio as metáforas. Metáforas
são prédios de concreto em florestas nunca dantes exploradas.
Mas funciona como a bicicleta
que tá lá em casa parada há um tempo. A gente usa a bomba pra encher o pneu e
ela anda, anda por algumas horas. Me leva até onde preciso. Na hora de ir
embora, porém, a borracha arrasta no chão e eu tenho que andar pra casa.
A ignorância sobre o pneu
furado não dura muito. Trabalhoso é achar o furo.
Há uma oficina de bicicletas
aqui perto onde você só precisa levar o material e eles não te cobram a
mão-de-obra; não te cobram a mão-de-obra,
pois te ensinam a achar o furo e remendá-lo.
Sempre que veem a minha linda Cruiser parada no terraço me falam dessa
oficina. Mas o que eu fiz, na verdade, foi tratar de arrumar uma bicicleta
nova. Era de graça para alunos da universidade, sabe?
Hoje as aulas foram canceladas.
Peguei a bicicleta nova, sentei numa mesa do lado de fora e pedi o vigésimo
café gelado da semana. Mas é de café preto, rum, vitamina de banana e uma Cruiser com o pneu furado no terraço que
eu sou feito.
Um comentário:
we should grab a coffee. period.
somos todos feitos de coisas contraditórias e controversas, e espaços ocupados por coisas inúteis e por coisas que podem voltar a ser uteis...=D
Postar um comentário