sexta-feira, dezembro 04, 2009

Babaloodibriante

Hoje eu ganhei um Babaloo de banana edição limitadíssima. Em alguma conversa solta de tempos atrás deixei escapar que a companhia tinha deixado de fabricar esse sabor há anos, pois aquela gominha amarela era capaz de disfarçar os resquícios deixados no hálito pela colega marijuana. Revoltada com seu insucesso e falta de amostras para comprovar o uso do produto, a polícia teria dado queixa e a fabricação teria sido suspensa. Talvez essa fosse só mais uma daquelas lendas urbanas em que a gente acreditava facinho. Era difícil encontrar razões para o cancelamento da fabricação de Babaloos de banana. Cinco. Seis. Sete anos, talvez, desde a última vez que havia mascado aquele que costumava ser meu sabor predileto. Mas hoje eu ganhei um Babaloo de banana edição limitadíssima. Alguém realmente tinha prestado atenção nessa historinha que contei só para distrair, enquanto dava aula. Meu aluno chegou e disse que tinha uma surpresa. Tirou o Babaloo do bolso e não falou nada. Olhei como quem pede explicações: “Sim, sim. Edição limitadíssima. Encontrei na minha escola de música. Era o último. Não consegui comprar nem pra mim, mas já que você disse que gostava tanto...” – disse ele. “É pra mim?” – respondi com os olhos brilhando. “Aham. Esse é precioso...” Ele não precisava ter dito isso. Eu sabia o valor daqueles vinte centavos que ele tinha investido. Agradeci sem jeito e disse que usaria numa ocasião muito especial. “A gente nunca sabe quando vai encontrar um desses de novo...” Coloquei-o no bolso. Eu o abriria mais tarde com cuidado, numa ocasião muito especial. Fui dar outra aula ainda com o Babaloo no bolso e pensando quando seria essa ocasião. Fui para casa, tomei banho e levei o Babaloo comigo para meu próximo destino. Não, não agüentaria esperar. Aquela era a ocasião especial: colocar um CD nostálgico no meu carro no caminho da Universidade e mascá-lo até lá. Entrei no carro e abri a embalagem muito cuidadosamente para que não a rasgasse. Coloquei minha faixa favorita do CD e finalmente o levei à boca. “Adolescência”, pensei. Enquanto aquela borracha redonda circulava pelo meu palato, eu apreciava como se fosse a última vez. Talvez fosse, vai saber. Não queria chegar ao recheio líquido tão depressa. Eu, que como rápido e vivo rápido, apreciei. Assim, minha primeira mascada foi lenta como um primeiro beijo. E em seguida, cada mascada me levava às alturas. Era como se eu tomasse um gole de um daqueles uísques caríssimos. Daqueles que só o gole superara o meu salário. Mas não, era só um Babaloo de banana. Completude em plena quinta-feira. A vida é cheia de surpresas mesmo. Cheguei à Universidade ainda com a goma na boca. Sentei-me para ouvir a professora. “Se fosse em outros tempos, ela estaria me pedindo para jogar o chiclete no lixo.” “Adultescência.”— pensei. E então já não conseguia mais me concentrar. Ainda nessa aula, escreveria a primeira linha disso aqui. A epifania babalooniana. Às vezes é difícil acreditar que a resposta das maiores indagações pode estar na natureza. Ou nos frutos da revolução, quem sabe. E lá estava. Naquela gominha de mascar amarela. Enquanto eu chupava aquela raridade, repensei e não, não tinha exatamente gosto de adolescência. Era gosto de início de romance. Bom, excitante, diferente. Mas, antes que eu pudesse continuar dizendo qualquer coisa sobre ele, o meu precioso foi perdendo o sabor. Se tornando, por fim, uma borracha comum. Dando aquele gosto azedo conhecido. De repente o meu Babaloo de banana tinha o mesmo dissabor de qualquer outro. E eu o hesitava em jogar fora. Comecei a brincar com ele, fazendo bolas, fazendo-o passear pela minha boca, botando-o debaixo da língua. Azedo, azedo. Parava de mascar alguns segundos, voltava, bola, céu da boca. Azedo, azedo. E antes que eu pudesse continuar a escrever qualquer coisa sobre ele, levantei e desisti de lutar contra o seu desgaste inevitável. Lixo, finalmente. Mas a embalagem eu guardaria. Numa caixa. Para sempre.

domingo, novembro 01, 2009

Pré-restrospectiva

TimesSquare/Turnesville/Loneliness/Happiness/Trips/AC/
SaoPaulo/Currículos/Entrevistas/Aproximação/ÚltimaFicada/ÁguaArFogoTerra/
InCompany/AdvancedLevels/Comer/Sociolinguistica/OSagradoNovamente
Fornalha/AlmoçoscomElfo/Vlad/
DemissãoVoluntária/
CulturaInglesa/Escraviário/Pesquisa/Pôr-do-Sol/
Despedidas/Landscape/VL/BuenosAires/
Despedidas/SaltoCorumbá/Dialéticas/Canadá/DemissãoVoluntária/Wizard
21/Hookups/Churrascos/Insanidade/Bluespace/InOffice
SaoPaulo/Butterflies/Palu/UmPoucoAlém/Canada/

sexta-feira, abril 17, 2009

Raindrops

Olhou para todos e realizou que teria de deixar tudo aquilo. Curiosly tinham todos demais... Eles tinham triunphado. Ficariam. Ele entraria no próximo voo e não era apto a mudar mais isso. Dinheiro, dinheiro que se esvai. Dinheiro, dinheiro que o levou. Buraco buraco que o buscou. "Eu gosto da sensação de estar longe de tudo" - suas palavras fluturaram pelo úmido ar mas não ganharam pouso em nenhum ouvido. Virou e foi em direção à beira da piscina. Ninguém viu. Seus músculos faciais lutavam à contração. Acordou com a primeira lágrima droppada depois de longos dias de chuva. Enteder a - á

sábado, março 07, 2009

Especial Antigos Profiles de Orkut - Na esperança de um novo quem sou eu. (Parte I)

Discreto

dentre os vários que sou, só não sei ser o que sou de verdade

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Ceratomundo

Em minha íris adulta, o embaçamento finalmente começa a ganhar cor de fumaça preta. Incomodam-me as pálpebras abertas; o mundo começa lentamente - bem lentamente - a escurecer. 

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Palpites

Tenho estado alheio até a este senhor, que sirvo. Todos os dias me aflige o cutucão; algo me diz que lhes devo explicações. Têm tentado adentrar meu labirinto, mas eu mesmo me perdi em suas curvas quadradas. "A quem não sabe aonde ir, qualquer caminho serve" já não é de meu interesse. Cansei de correr, de andar em círculos na esperança de um acerto. Parei.
Contemplo, então. Hay sido difícil, porém, olhar o dentro. Sinto (?), mas não vai para fora o que não me insidiu. O que vem de fora toca o meu fora. É só.
Alheísmo, bruteza, rudeza, dispersão, passividade, impaciência, far-away-look, riso frouxo, dúvida, vagueza, insegurança, conflito, multisemiotia, esgotamento, tristeza: sim, sim! Tudo que têm me dito. No entanto, sintetizo-me:

Cansaço. 

Contemplo o templo que é o tempo.

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Primeira pessoa

Olhando minhas pastas percebi que 90% dos meus textos são redigidos na primeira pessoa e têm um número bem superior ao necessário de "eu" e "meu". Ainda assim, não sei responder a essa pergunta. Também não sei se devo, ou para que devo, respondê-la; isso é realmente possível? Já fui prepotente demais em rechear esse perfil com meus "eu's" e "meu's". Perdi algum tempo também trabalhando a palavra, na esperança de que alguém, do outro lado, tentasse fazer o caminho inverso para me compreender. Como se existisse razão ou algo para ser compreendido.
Ah, sco de mim!

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Os Prepotentes ou Sobre o Óbvio

Não sou aquele que te apontará o caminho certo; e nem o errado. É que eu não sou amor e nem ódio, não sou o bonito nem o feio, nem o bem nem o mal, nem o puro e nem o perverso. Eu sou habitante da divisa, de todas coisas. Moro em cima do muro e olho para os dois lados. Sei as vantagens e as desvantagens de cada um. Eu vou atiçar o seu raciocínio, mexer com seu psicológico, te deixar confuso. Daí você escolhe: Ou segue uma das direções depois de me ouvir, ou divide a divisa comigo(dividir a divisa. legal, né?). A divisa é a razão. Não sou introdução e nem conclusão, sou desenvolvimento. Você começa, eu desenvolvo, você conclui.

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A resposta dessa pergunta pode vir a magoar muita gente. É melhor que cada um me interprete de um jeito, me conheça de um jeito, me ame de um jeito... porque eu não sou só um; e não é que eu tenha duas caras. É que cada ambiente me absorve de um jeito, cada sorriso me cativa de uma forma, e cada grupo conhece um pedaço que outro desconhece. Há pedaços (grandes, até) da minha essência que até eu desconheço. Talvez seja preferível continuar sem conhecê-los... talvez seja melhor ignorá-los... Eu sou alguém que fez uma escolha de uns tempos pra cá;e é nela que eu pretendo viver.

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Dezenove

10 de Setembro 
10/09
10 + 09
19

Dez e Nove 
Todo mundo quer fazer quinze anos. É a auto-afirmação de que a adolescência chegou de verdade. Dezesseis também é aspiração geral; é o jeito de driblar a censura em Boites melhorzinhas e ver filmes mais adultinhos. Com dezessete, o ensino - de fato - médio vai acabando e começa-se a fazer escolhas importantes. Idade impressionante, a dos dezessete. Dezoito nem precisa falar nada. O mundo começa a exigir amadurecimento, ainda que você queira continuar a viver nos lúdicos anos anteriores. E você dirige, tira uma penca de documentos, e – dizem- responde pelos seus atos. Mas é aos vinte que parece que a adultice chega. A noção de duas décadas, e de um número redondo, parece dar a impressão de que, yeah, agora começou; mesmo. Sim, mas - ainda bem - é só impressão. A coisa é que ninguém sonha em fazer dezenove. Dezenove não tem novidade. Dezenove é estranho. Parece ir além dos vinte. Transcende. Envelhece-se drasticamente com ele. Depois, se rejuvenesce aos vinte. Coisa de nomenclatura; do poder da palavra. Vinte soa jovem; dezenove, velho. Deve ser uma idade bonita também, entretanto. Então, vou aproveitar meu um ano de maturidade, daí no ano que vem eu penso que acho que virei adulto e volto à doçura dos quinze!

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O Favorito

eu tenho sangue arretado de nordestino
e a educação do sul
eu tenho instinto de tribos do norte,
vivendo no paleolítico
e a pressa e a sede do sudeste
mas meu negócio é o centro-oeste
o centro do centro-oeste
eu sou brasiliense
sou de terra de ruas e conversas sem erros
de gente escondida como eu
pra essa sequidão do planalto central
eu me volto
ai, como eu queria que o mundo todo
conhecesse nossa aurora boreal

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Eu sou uma hemorragia interna incessante. Não pára; é que às vezes eu confundo estancamento com anestesia.