quinta-feira, julho 24, 2008

Os últimos dias têm sido dias de reforma. Reformas lentas e mal feitas, é verdade, mas válidas. Vem-me a cada segundo uma efusão de idéias e planos dos menores aos mais grandiosos. Me permeiam, me renovam, me confundem, me recriam. Tenho aquela certeza de que quase tudo é fumaça passageira, mas isso traz de volta à vida alguns neurônios meus que há muito já se tinham ido. Perdi de vez o jeito que nunca tive de escrever, embora em outras vezes achasse-o libertação. Censurei-me tanto ao reler escritos antigos que parei, neguei continuar cantando o jingle, falar a mesma coisa, tentar enfeitar e construir o isso. O longo espaçamento do último post a esse só reflete o quanto eu não tinha nada a dizer. Meu cérebro estava branco, cheio de neblina. O turbilhão de coisas dos últimos meses o estagnaram, era preciso abstrair, deixar a opacidade baixar um pouco e desconstruir. Fiz - e ainda estou fazendo - o caminho inverso e mais sensato: é preciso desconstruir, deixar o antigo ir embora, deixar os maus hábitos voarem, dar mais destaque e valorizar ao que tem - ou teve - verdadeiro significado, me livrar de livros, revistas, aparelhos que já não funcionavam, móveis, papéis, coisas e pessoas. Papéis, coisas e pessoas sem significado que só enchiam meu quarto e meu cérebro de um nada gigante. Acho que a coisa mais difícil num processo de desconstrução é desconstruir o nada. Como tirar o vazio de dentro de algo? Porque, veja só, num processo de desconstrução, tira-se o velho para poder colocar o novo. Se tem vazio, tem espaço para o novo. Mas então pra que é que - e como é que - eu tiro o nada? Tiro o nada de onde? Coloco onde? Onde que começo a colocar as outras coisas? A idéia vem toda coloridinha, aniquilando a fumaça branca. Mas ainda não ganhou forma concreta que expulse o vazio e recheie (recheie o que? o nada? o vazio? o buraco?) de peso. Eis o meio do processo; transe.

desconstruir. 
des-cons-tru-ir. 
d e s c o n s t r u i r. 

[d] {s} (o) (s) (r) (i)
{e} (c) (n) (t) (u) (r). 

{e} {s} - (o) (n) (r) (t) (c) (r) (s) (i) (u) - [d]eletado

s e c o n s t r u i r
se cons-tru-ir
se construir
construir-se.

Um comentário:

Citrus sinensis disse...

Eu gosto de você poetando! Volta pra cá!